Sustentabilidade do sistema de saúde: o papel das clínicas de transição para superar os desafios
A saúde no Brasil vive um momento crucial: a população está envelhecendo, a prevalência de doenças crônicas está aumentando e, com isso, os custos e a demanda por internações hospitalares pressionam a sustentabilidade do sistema de saúde. Para enfrentar esses desafios, as clínicas de transição de cuidados podem ser uma alternativa.
“Nos cuidados de transição estão presentes as condições adequadas aos pacientes após a fase aguda: alinhamento de interesses nos planos terapêuticos, objetivos específicos de cada indivíduo sem procedimentos desnecessários, indicadores de qualidade, performance e desfecho”, explica o fundador da Humana Magna e conselheiro tesoureiro da Associação Brasileira de Hospitais e Clínicas de Transição, Arthur Hutzler.
Neste artigo, iremos demonstrar como as clínicas de transição representam uma estratégia promissora para enfrentar os desafios dos sistemas de saúde contemporâneos.
Principais desafios para a sustentabilidade do sistema de saúde
Com o passar dos anos, o perfil demográfico e epidemiológico da população brasileira foi se modificando. “Em ritmo acelerado verificamos o envelhecimento da população e o aumento da prevalência de doenças crônicas. Neste contexto, a principal consequência é o aumento da demanda por internações hospitalares, cada vez mais prolongadas”, explica Hutzler.
Com a evolução da medicina e de políticas públicas de saúde, a expectativa de vida da população tem aumentado, aliado à queda da taxa de natalidade, com as famílias tendo menos filhos. Com isso, a tendência é o envelhecimento da população, mais propensa a doenças crônicas.
Nesse contexto, o custo do sistema de saúde aumenta, já que, em média, os quadros clínicos tendem a se tornar mais complexos conforme a idade do paciente avança. Especialidades médicas, evoluções tecnológicas e outros aspectos que elevam os custos gerais.
Contribuição das clínicas de transição de cuidados
As clínicas de transição de cuidados atuam como elo entre a internação hospitalar e o retorno para casa. Nesse sentido, oferecem uma alternativa para reduzir as internações quando elas não forem necessárias e capacitam tanto pacientes quanto rede de apoio para o cuidado pós-alta, diminuindo reinternações.
“As instituições de transição são um componente importante nas estratégias para enfrentar os desafios à sinistralidade com a demanda crescente por internações prolongadas”, afirma Hutzler. De acordo com ele, além dos benefícios aos pacientes, o modelo de transição de cuidados traz mais economicidade para a jornada do paciente, já que os custos de uma diária em clínica de transição “oscilam entre 15% e 35% de uma diária hospitalar regular”.
Além disso, a melhora na gestão de doenças crônicas, um diálogo coordenado entre os diferentes provedores de saúde que garanta continuidade dos cuidados e o monitoramento contínuo do paciente são alguns outros benefícios das clínicas para esse contexto. Do ponto de vista da sustentabilidade do sistema de saúde, são menos readmissões, menos complicações médicas, aliadas a maior satisfação dos beneficiários e coordenação entre os profissionais.
As clínicas de transição em outros países
Os desafios da sustentabilidade do sistema de saúde não são exclusividade do Brasil. Outros países também percebem a mudança no perfil de suas populações ao longo do tempo. “Nos Estados Unidos e na Europa há centenas de milhares de leitos em operação na transição de cuidados (seja em reabilitação, cuidados paliativos ou cuidados prolongados). A relação de leitos de transição por leito hospitalar é muito mais alta que no Brasil”, afirma Hutzler.
Para garantir a sustentabilidade, o sistema é regulado de forma pragmática, com indicações objetivas da sequência de cuidado de cada indivíduo e liberações, indicadores e condições. “Há um alinhamento maior de interesses entre as partes e o paciente fica menos ‘solto’ no sistema”, avalia Hutzler. Com isso, as decisões se tornam mais otimizadas e os desfechos têm menor taxa de judicialização.
Possibilidade em implementação
As clínicas de transição de cuidados podem se configurar como uma solução inovadora e eficaz para os desafios do sistema de saúde. “O sistema de saúde passa por uma crise que evidencia a insustentabilidade do sistema no modelo atual. O segmento de cuidados pós fase aguda representa cada vez mais papel fundamental na jornada de cuidados, promovendo cuidado certo no tempo certo a custo certo para a crescente parcela de população portadora de doenças crônicas.”, conclui Arthur Hutzler.
Ao oferecerem um modelo de cuidado centrado no paciente, focado na continuidade e na gestão eficiente de recursos, as clínicas de transição de cuidado podem contribuir para a sustentabilidade do sistema e a melhoria da qualidade de vida da população.
Para saber mais sobre como tornar o nosso sistema de saúde mais sustentável, confira um conteúdo especial sobre o modelo de remuneração baseada em valor.
Remuneração Baseada em Valor: quais os benefícios para o Sistema de Saúde no Brasil?
O evidente envelhecimento da população brasileira, o aumento da expectativa de vida e da incidência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são alguns fatores que têm tornado cada vez mais desafiadora a sustentabilidade do sistema de saúde no país.
Em resposta a isso, novos modelos de financiamento, mais centrados na jornada do paciente, têm sido discutidos. Um deles é a Remuneração Baseada em Valor (RBV).
Fundamentado na noção de “Cuidado de Saúde Baseado em Valor”, um termo derivado do inglês “Value-Based Health Care” (VBHC), a Remuneração Baseada em Valor busca melhorar a eficiência e qualidade dos serviços públicos, valorizando a percepção dos pacientes ao final dos processos.
É um modelo que se contrapõe ao Pagamento por Procedimento (Fee For Service), mais comum no país, e à remuneração por diárias.
Neste artigo, compreenda como funciona a Remuneração Baseada em Valor e qual seu impacto no sistema de saúde brasileiro e na qualidade do tratamento dos pacientes.
Remuneração Baseada em Valor: o que é?
O objetivo desse modelo é estabelecer parâmetros que permitam mensurar a qualidade do serviço prestado, com foco em toda a jornada do paciente ao longo da cadeia de interações com o sistema de saúde.
Nesse sentido, as instituições que oferecem um serviço de mais qualidade são incentivadas com uma remuneração maior.
O modelo de Pagamento por Procedimento (Fee For Service), por exemplo, traz fragilidades graves que comprometem a sustentabilidade do Sistema. Direta ou indiretamente, acabam favorecendo e incentivando a realização de procedimentos desnecessários. Além disso, desarticulam a rede de cuidados e, em última instância, desperdiçam recursos e tempo essenciais em um processo de cura.
A remuneração por diárias também acaba incentivando a permanência além do necessário de muitos pacientes em internações desnecessárias ou reinternações, aumentando o risco de intercorrências. Outro aspecto negativo desse modelo é o desincentivo à mensuração da qualidade em saúde, já que os envolvidos estão focados no volume e não na qualidade.
Principais vantagens do modelo RBV
- Gastar menos com desperdícios.
- Investir no que proporciona desfechos mais satisfatórios para os pacientes.
- Gerar de forma coordenada indicadores de valor que melhorem o sistema de saúde cada vez mais.
Essas são as transformações de paradigma que a Remuneração Baseada em Valor pode realizar.
A coordenação de cuidados é um ponto chave nesse processo. Ao invés de incentivar a fragmentação do atendimento que a prioridade do volume acarreta, seu o objetivo final é conseguir uma percepção de valor mais positiva do beneficiário. Para isso, é necessário articular diferentes instituições e prestadores de serviço para a construção de uma jornada do paciente mais eficiente. Isso evita desperdícios, inclusive administrativos, com menos discrepâncias documentais e processos burocráticos junto às operadoras.
Tanto nos Estados Unidos como na Europa, muitos benefícios foram percebidos. Nos EUA, economias substanciais e melhorias na qualidade do cuidado foram percebidos em serviços de saúde que usam a RBV. No continente europeu, a RBV melhorou o alinhamento de incentivos entre pacientes, prestadores e pagadores.
Além disso, a RBV também traz melhores resultados para todos porque aprimora a atenção primária e os cuidados preventivos, preservando os atendimentos de alta complexidade para os momentos em que são mais necessários.
Além de ser menos custoso para operadoras e prestadores de saúde, para os beneficiários o aumento na segurança assistencial se reflete em menos intervenções agudas e melhores resultados em processos de cura e de recuperações.
Desafios da implantação do modelo RBV no Brasil
Apesar dessas vantagens, a RBV ainda enfrenta alguns desafios para a implementação plena no Brasil. Estima-se que, ainda hoje, mais de 90% da remuneração de atores do Sistema de Saúde Suplementar no país sejam feitas com base no Pagamento por Procedimento.
Um dos principais desafios é cultural. O diálogo precisa ser realizado tanto profissionais quanto beneficiários no sentido de que nem sempre o mais caro ou mais complexo é o mais indicado. Muito pelo contrário, a atenção adaptada à realidade de cada paciente é que deve ser central.
Outro entrave é consequência dos modelos utilizados atualmente: a desarticulação dificulta o estabelecimento de indicadores de mensuração de valor justos e equilibrados. Essa construção precisa ser coletiva entre todos os atores do Sistema.
Entrevista: CEO da Rede Paulo de Tarso fala sobre os benefícios do modelo RBV

Em entrevista,o CEO da Rede Paulo de Tarso, Carlos Costa, detalha esse modelo inovador e explica como esse novo paradigma pode transformar o sistema de saúde suplementar no país. Confira:
Portal Clínica de Transição: Dr. Carlos Costa, o que é a Remuneração Baseada em Valor (RBV) e como ela se difere do modelo de remuneração tradicional no setor de saúde?
Carlos Costa: A Remuneração Baseada em Valor é uma abordagem inovadora no setor de saúde que foca na qualidade e nos resultados dos cuidados prestados aos pacientes, ao invés da quantidade de serviços fornecidos.
Diferente do modelo tradicional, que geralmente paga por procedimento ou serviço, a RBV busca alinhar os incentivos financeiros com a saúde e o bem-estar do paciente, premiando os provedores de saúde que conseguem entregar cuidados de alta qualidade, eficazes e eficientes.
Isso significa olhar além dos serviços prestados, focando nos resultados assistenciais e na satisfação do paciente.
Portal: E quais são as principais vantagens da RBV para o sistema de saúde brasileiro?
Carlos Costa: As vantagens são múltiplas e significativas. Primeiramente, a RBV incentiva a redução de desperdícios, pois premia a eficiência e desencoraja práticas desnecessárias. Isso não só otimiza os recursos, mas também pode resultar em economias substanciais para o sistema de saúde como um todo.
Para os pacientes, essa abordagem promove melhores desfechos assistenciais, como a redução de rehospitalizações e iatrogenias, pois o foco está na qualidade do cuidado.
Para os provedores de saúde e operadoras de planos de saúde, há o incentivo para a inovação e para a adoção de práticas que verdadeiramente agreguem valor ao paciente, o que pode resultar em vantagens econômicas significativas para ambos.
Portal: Na prática, como a Rede Paulo de Tarso está implementando a RBV?
Carlos Costa: Na Rede Paulo de Tarso, estamos comprometidos com a implementação da RBV em todos os níveis de atendimento. Isso envolve desde a adoção de tecnologias que permitam um acompanhamento mais preciso dos desfechos assistenciais até a reestruturação de nossos contratos com operadoras de saúde, para que reflitam os princípios da RBV.
Estamos investindo em sistemas de prontuário eletrônico que integram dados de saúde do paciente em tempo real, permitindo uma avaliação contínua da qualidade do cuidado prestado, seja no período de internação em uma de nossas clínicas ou em monitoramento no domicílio através do Amparo, nosso programa de prevenção secundária.
Além disso, temos parcerias com operadoras de saúde para desenvolver modelos de pagamento que incentivem a prevenção, o tratamento adequado de condições crônicas e a redução de procedimentos desnecessários.
Portal: Quais desafios vocês enfrentam na implementação da RBV e como estão superando esses obstáculos?
Carlos Costa: A implementação da RBV apresenta vários desafios, incluindo a necessidade de mudança cultural entre os profissionais de saúde, a adaptação de sistemas de TI para suportar a coleta e análise de dados relevantes, e a negociação de modelos de remuneração com operadoras de planos de saúde.
Estamos superando esses obstáculos através de programas de treinamento contínuo para nossa equipe, investindo em infraestrutura tecnológica e trabalhando em estreita colaboração com as operadoras para desenvolver modelos de remuneração que sejam justos e que incentivem a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de saúde.
Portal: Qual mensagem você gostaria de deixar para os demais gestores de saúde e para o público em geral sobre a RBV?
Carlos Costa: Gostaria de enfatizar que a Remuneração Baseada em Valor não é apenas uma tendência ou um conceito teórico; é uma abordagem necessária e transformadora que tem o potencial de melhorar significativamente a qualidade e a eficiência do cuidado em saúde.
Para meus colegas gestores, meu conselho é começar a jornada em direção à RBV agora, envolvendo-se ativamente na redefinição de como o cuidado em saúde é prestado e remunerado.
Para o público em geral, saibam que a RBV é sobre colocar os seus interesses no centro do sistema de saúde, assegurando que você receba o cuidado de que precisa, quando precisa, da forma mais eficaz e eficiente possível. Juntos, podemos transformar o sistema de saúde para melhor, com foco no que realmente importa: a saúde e o bem-estar dos pacientes.
Portal: Como a Rede Paulo de Tarso, especificamente através de suas unidades Clínica de Transição Paulo de Tarso e Suntor Clínica de Transição, utiliza indicadores de desempenho para melhorar os resultados dos pacientes?
Carlos Costa: Em nossas unidades, adotamos uma abordagem rigorosa na mensuração de desfechos clínicos que realmente importam para o paciente. Por exemplo, monitoramos de perto indicadores como Ganho de Função Motora, Desmame de Ventilação Mecânica, e Desmame de Traqueostomia.
Estes indicadores são vitais para entendermos não apenas o progresso do paciente durante o tratamento, mas também para ajustarmos nossas estratégias e garantir os melhores resultados possíveis. Um dado que nos orgulhamos é que, em média, conseguimos efetuar o desmame da traqueostomia em 9 de cada 10 pacientes, um resultado que fala sobre volume e a qualidade do nosso cuidado.
Portal: Como esses resultados impactam a economia pós-alta e a qualidade de vida do paciente?
Carlos Costa: Esses resultados têm um impacto direto tanto na economia pós-alta quanto na qualidade de vida do paciente.
Quando um paciente retorna ao domicílio sem a necessidade de suportes invasivos como a ventilação mecânica ou sondas nasoentéricas, os custos com cuidados continuados e o risco de complicações diminuem significativamente.
Além disso, a nossa incidência de lesão por pressão é menor que 1%, muito abaixo da média hospitalar apontada por algumas literaturas entre 15 e 25%, o que significa menos necessidade de curativos especiais e tratamentos para feridas infectadas.
Isso não só reduz os custos com antibióticos caros como também melhora significativamente a recuperação e o bem-estar do paciente.
Portal: E como o modelo de remuneração que a Rede Paulo de Tarso pratica influencia nos resultados?
Carlos Costa: Nossa Rede adota um modelo de remuneração que realmente incentiva a melhoria contínua e o compartilhamento de riscos. Através desse modelo, nós alinhamos nossos interesses com os das operadoras de planos de saúde e, mais importante, com os dos pacientes.
Isso significa que somos incentivados a proporcionar o melhor cuidado possível, não apenas para atingir bons resultados clínicos, mas também para garantir uma transição suave do paciente para o domicílio, minimizando as chances de reinternação e complicações. Esse modelo nos desafia constantemente a buscar inovações e melhorias em nossos serviços.
Portal: Qual seria seu conselho para gestores de operadoras de planos de saúde em relação à adoção de modelos de remuneração baseados em valor?
Carlos Costa: Meu conselho é claro: é essencial que os gestores de operadoras de saúde reconheçam a importância de testar e adotar modelos de remuneração que apoiem o compartilhamento de risco e a performance assistencial.
O modelo tradicional de pagamento por serviço prestado, predominantemente voltado para casos agudos, perpetua um ciclo de reinternações, iatrogenias e aumento dos custos em saúde. Incentivar a adoção de modelos baseados em valor, como o que praticamos na Rede Paulo de Tarso, pode transformar esse cenário, beneficiando não apenas os pacientes com cuidados de maior qualidade e eficiência, mas também o sistema de saúde como um todo, ao reduzir custos desnecessários e promover uma saúde mais sustentável.
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Cuidados continuados integrados: como atender às necessidades dos idosos
Felizmente, com os avanços da ciência, estamos vivendo mais. Por outro lado, o envelhecimento da população tem aumentado a importância dos cuidados continuados integrados (CCI) para idosas e idosos no país. Esse modelo de atenção permite atender, a partir da atuação de uma equipe transdisciplinar, às necessidades desse público de forma abrangente e coordenada.
Os CCI e as clínicas de transição de cuidados estão fortemente relacionados. As clínicas contribuem decisivamente para melhorar a jornada do paciente depois que um evento agudo foi estabilizado e a permanência em um hospital de alta complexidade não é o mais indicado, mas ainda é necessária adaptação para o retorno domiciliar.
Neste artigo, entenda melhor o que são os cuidados continuados integrados e como eles contribuem para melhorar a qualidade de vida de pacientes na terceira idade.
O que são cuidados continuados integrados (CCI)
“Falar de cuidados continuados integrados significa falar de um modelo que se baseia no cuidado de saúde que se inicia em uma fase terapêutica, por exemplo, uma internação, e acompanha a evolução do paciente por todas as etapas, até o pós-alta”, resume o Diretor Médico na Clínica de Transição Paulo de Tarso, Bruno Versiani.
É uma abordagem “continuada” justamente por ser contínua e coordenada pelas diversas etapas do tratamento: desde acolhida, diagnóstico, prognóstico, recuperação, alta e pós-alta. Além disso, é “integrada” porque essa continuidade se baseia na integração entre todos os pontos da rede de saúde por onde o paciente passa: operadora, prestador de serviço, hospital, clínica de transição, etc.
Qual a importância dos CCI para idosos em transição de cuidados?
Os pacientes em transição de cuidados, em muitos casos, necessitam de um cuidado mais acentuado em relação à adaptação a uma nova realidade com maior dependência e menor autonomia. No caso dos pacientes idosos isso também se aplica de forma especial.
“Idosos e idosas podem ter como pessoa de referência um marido ou esposa que também pode estar em um momento de fragilidade. Com a idade avançada, é natural que os cuidados com a saúde se tornem mais complexos. Nesse sentido, o cuidado continuado integrado é importantíssimo. Esse paciente não fica solto”, detalha Versiani. Tanto para pacientes quanto para familiares e cuidadores uma jornada baseada em um plano terapêutico coeso, especializado e coordenado faz toda diferença.
Nesse sentido, os CCI garantem que a transição de cuidados seja feita com continuidade do cuidado, sem interrupções ou rupturas de acompanhamento; com uma abordagem multidisciplinar, a partir do olhar de profissionais de diferentes especialidades em diálogo; um plano terapêutico individualizado e uma preparação mais adequada para o retorno ao lar.
Além disso, os cuidados continuados integrados podem contribuir fortemente para diminuir o risco de reinternação, uma das grandes ameaças para a recuperação de pessoas idosas.
O papel da clínica de transição de cuidados na oferta de CCI
As clínicas de transição podem contribuir para fortalecer a oferta de cuidados continuados integrados, já que funcionam como um elo entre o hospital de alta complexidade e o retorno ao domicílio.
Quando essa transição acontece de forma muito abrupta, perde-se a continuidade do tratamento e a família ou cuidadores podem não conduzir da melhor forma o processo de pós-alta.
“Idosas e idosos acabam dependendo mais da presença de familiares e cuidadores. Por isso, uma equipe multidisciplinar, plano de cuidado individualizado e o ambiente mais acolhedor podem contribuir fortemente na recuperação”, afirma Bruno Versiani. Nas clínicas de transição, o gerenciamento de riscos na recuperação e a adaptação à nova realidade daquela ou daquele paciente são centrais no processo.
Desafios e oportunidades para a implementação de CCI em clínicas de transição de cuidados
Entretanto, a implementação de cuidados continuados integrados no sistema de saúde nacional, sobretudo em clínicas de transição de cuidados, ainda enfrenta alguns desafios. Entre eles, a carência de profissionais qualificados para atuar nessa abordagem e, portanto, a necessidade de investimentos para a formação desse corpo técnico.
Mas, esses desafios podem ser enfrentados com a disseminação do entendimento de que os benefícios gerados com o CCI superam, por exemplo, os investimentos necessários. Isso porque a eficiência em termos de economicidade do sistema aumenta, além da satisfação de pacientes e familiares, já que a melhora na qualidade de vida dessas pessoas também é significativa.
Esses resultados são possíveis a partir de parcerias entre os diferentes setores do sistema de saúde, aumentando a integração e buscando alternativas para o financiamento do investimento em formação continuada dos profissionais.
O futuro dos CCI em clínicas de transição de cuidados
“Nosso principal objetivo precisa ser sensibilizar tanto o Estado quanto as operadoras sobre como as clínicas de transição podem trazer bons resultados”, avalia Versiani. Segundo ele, os CCI são a “alma” do trabalho realizado nas clínicas, que são continuadas e integradas por definição.
Por isso, pensar na relevância acentuada de uma atenção que acompanhe toda a jornada do paciente para pessoas idosas é pensar no papel crescente dos CCI nas clínicas de transição e, portanto, das próprias clínicas no sistema de saúde, oferecendo um modelo de cuidado ainda mais eficaz e humanizado.
Com o aumento da população de terceira idade nos próximos anos, a tendência é de que mais inovações surjam no trabalho de cuidados continuados integrados. As clínicas de transição são o espaço fértil ideal para aproximar essas novas possibilidades à vida de pacientes que precisam dela, promovendo melhor qualidade de vida e autonomia dessas pessoas.
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O que são as linhas de cuidados no modelo de transição de cuidados?
As decisões tomadas ao longo da jornada do paciente interferem diretamente nos desfechos alcançados. Isso é especialmente determinante quando se tratam de pacientes de alta complexidade, que necessitam de cuidados de transição.
Neste artigo, abordaremos como as linhas de cuidados são importantes para o modelo de transição de cuidados. Também iremos entender um pouco melhor como a gestão dessas linhas de cuidados pelas clínicas de transição pode contribuir para a melhora na qualidade de vida dos pacientes e da rede de cuidados de cada um deles.
O que são linhas de cuidados?
Segundo o Diretor Técnico da Clínica de Transição Paulo de Tarso, Dr. Vinícius Lisboa, as linhas de cuidados são acima de tudo uma forma de determinar prioridades dinâmicas para cada paciente. “Com as linhas de cuidado, nosso objetivo é entender o momento que o paciente está e em que áreas há mais potencial para alcançar mais autonomia e independência além de qualidade de vida”, explica Lisboa.
Segundo o Ministério da Saúde, o objetivo das linhas de cuidado é “orientar o serviço de saúde para centrar o cuidado no paciente e em suas necessidades; demonstrar fluxos assistenciais com planejamentos terapêuticos seguros nos diferentes níveis de atenção; estabelecer o percurso assistencial ideal dos indivíduos nos diferentes níveis de atenção de acordo com suas necessidades”.
Assim, as linhas de cuidados são formas de organização do atendimento que permitem priorizar os procedimentos terapêuticos conforme as necessidades de cada paciente. Organizadas a partir de equipes multidisciplinares, as linhas de cuidado buscam atuar em duas frentes principais: garantir maior autonomia e independência ao paciente e melhorar a qualidade do cuidado oferecido por familiares e cuidadores.
Conheça as linhas de cuidados gerenciadas por Clínicas de Transição de Cuidados
A partir das necessidades dos pacientes são estabelecidas diversas linhas de cuidados nas clínicas de transição. “Buscamos ir além do foco exclusivo na parte clínica e entender como é possível melhorar o quadro geral”, afirma Lisboa.
Importante ressaltar que o cuidado de transição engloba cuidados em várias frentes, como por exemplo:
- Cuidados para pacientes com doenças crônicas complexas pós-agudização;
- Cuidados para pacientes em recuperação de cirurgias complexas;
- Cuidados para pacientes com condições neurológicas sequelares ou neurodegenerativas;
- Cuidados para pacientes com transtornos de saúde mental associados ao declínio cognitivo/neurológico;
- Cuidados para desmame complexo de ventilação mecânica;
- Cuidados em sintomas complexos associados ao cuidado paliativo;
- Cuidados paliativos em fase final de vida;
- Cuidados associados a desmame de dispositivos (traqueostomia, cateteres enterais, sondas vesicais entre outros).
- Cuidados associados a reabilitação físico funcional
- Cuidados de reabilitação associados a condições cardiovasculares limitantes
- Cuidados em condições ortopédicas limitantes e adaptação de próteses
De acordo com Vinícius Lisboa, três linhas de cuidados estabelecem a atuação no cuidado de transição:
1. Reabilitação
A reabilitação prioriza medidas terapêuticas voltadas à máxima recuperação de níveis de independência e autonomia.
Nesse contexto, são utilizadas medidas terapêuticas que buscam, por exemplo, a reabilitação funcional, de mobilidade ou para execução de atividades da vida diária e desmame de dispositivos, por exemplo.
2. Cuidados Crônicos
Já os cuidados crônicos se encaixam em casos que, não necessariamente, possuem grandes critérios de reabilitação ou perspectiva de desmame.
Por isso, os cuidados são focados na manutenção da qualidade de vida e operacionalização de dispositivos e rotinas específicas necessárias, como cuidados com traqueostomia, manejo de medicações e outros procedimentos frequentes. São cuidados com alta intensidade de treinamento da família.
3. Cuidados Paliativos
Finalmente, os cuidados paliativos priorizam garantir o máximo de dignidade, conforto e a diminuição do sofrimento dos pacientes elegíveis.
Esses cuidados envolvem ainda, como os demais, porém com mais intensidade, o apoio à rede de pessoas próximas ao paciente, garantindo o suporte também psicológico ao paciente e familiares para lidar com cenários que ameaçam a continuidade da vida do paciente.
Para uma satisfatória evolução do paciente, uma análise baseada em um plano terapêutico individualizado determina qual deve ser a prioridade em cada momento.
Quais os critérios de elegibilidade para cada linha de cuidado?
“Nesse contexto, os pacientes têm condições clínicas muito diferentes de cirurgias eletivas, em que a pessoa termina um procedimento e está com autonomia e independência preservadas. Em diversos casos, aumenta-se muito – temporariamente ou não – o nível de dependência daquela pessoa, o que é um grande desafio para pacientes e familiares”, conta Lisboa.
Por isso, a análise para definição de qual a melhor linha de cuidado para cada caso é dinâmica e especializada.
“A transição de cuidados está intimamente ligada com a atenção à fragilidade em que um paciente pode se encontrar ou mesmo familiares e cuidadores”, destaca Vinícius Lisboa. As linhas de cuidado estabelecem prioridades, mas não limitam o atendimento. O paciente pode inclusive navegar entre elas de acordo com seu momento e necessidade.
Como é o processo de avaliação e seleção de pacientes para cada linha de cuidados?
No caso dos pacientes de alta complexidade, o acompanhamento deve ser sempre feito de forma contínua por uma equipe multidisciplinar para entender e atender às mudanças das demandas terapêuticas ao longo do tempo.
Nesse contexto, tanto a análise dos indicadores clínicos quanto o debate técnico entre os profissionais de saúde são imprescindíveis.
“Todo esse processo possui técnica, método e literatura consolidados. O importante é ponderar sobre dois aspectos cruciais: em que cenário temos mais potencial de recuperação e o que dará mais qualidade de vida, seja para o paciente, seja para os familiares”, afirma Lisboa.
Como é feita a implementação e a gestão das linhas de cuidados?
As linhas de cuidado são uma abordagem dinâmica da atenção aos pacientes das clínicas de transição. Por isso, a implementação e gestão dessas linhas também precisam levar em consideração vários aspectos.
Desde o desenvolvimento de planos e cuidados individualizados para cada paciente, entendendo que demandas terapêuticas e quais profissionais são mais adequados.
A coordenação de cuidados é fundamentada pelo monitoramento constante do progresso de cada caso, sendo ajustado ao longo da jornada do paciente. Tudo, sempre em diálogo entre pacientes, familiares e equipe multidisciplinar.
O impacto das linhas de cuidados no modelo de transição de cuidados
As linhas de cuidado se traduzem em melhorias tanto para os pacientes quanto para o próprio Sistema de Saúde. Essa priorização e organização das demandas terapêuticas dá mais eficiência e melhor economicidade para a jornada do paciente.
Na comparação com um leito de UTI, por exemplo, a atenção dentro da clínica de transição em uma linha de cuidado apropriada tem um custo muito menor e potencializa a melhoria de qualidade de vida de quem está sendo cuidado.
Além disso, a clínica de transição capacita cuidadores e/ou familiares para melhorar o retorno ou lar. Isso impacta no bem-estar, confiança e autonomia de todas as pessoas envolvidas, mas também reduz significativamente os índices de reinternação de pacientes.
Os principais desafios na implementação e gerenciamento de linhas de cuidado
“É hora de articularmos informações entre o Sistema Único de Saúde, prestadores de serviços e operadoras para entendermos as particularidades da realidade brasileira e aprimorarmos nossos modelos”, explica Vinícius Lisboa. De acordo com ele, a fragmentação das informações é um dos principais desafios para que o modelo de transição de cuidados possa ser ampliado no país.
A falta de informação pode impor barreiras. O desconhecimento dos profissionais para fazer o melhor encaminhamento de pacientes elegíveis segue sendo uma realidade. “Os cuidados de transição precisam estar na formação e nos debates dos profissionais de saúde. Assim, ampliar essa possibilidade cada vez mais”, afirma Lisboa.
As linhas de cuidado tornam a jornada do paciente mais eficiente e diminuem os custos para os melhores desfechos. Se você quer saber mais sobre as clínicas de transição, inscreva-se na nossa newsletter e receba conteúdos inéditos toda semana em seu email.
Quando encaminhar pacientes de alta complexidade para uma clínica de transição de cuidados?
Entregar o que cada paciente precisa, no momento certo, é um critério definidor para o alcance dos melhores desfechos possíveis. Por isso, acompanhar toda a jornada do paciente com coordenação de cuidados articulados é cada vez mais necessário.
Nas mais diferentes áreas médicas, existem casos que podem exigir tratamentos de alta complexidade, que demandam trabalho multidisciplinar e coordenado, assim como apresentam diversos desafios.
Neste artigo, iremos entender melhor como e quando devem ser realizados os encaminhamentos de pacientes da alta complexidade para clínica de transição de cuidados.
O que é considerado um paciente de alta complexidade?
No Brasil, a organização do Sistema de Saúde se estabelece em três níveis: baixa, média e alta complexidade. As categorias são definidas com base na demanda por recursos humanos e tecnologia de cada caso.
Em outras palavras, não estão necessariamente ligadas à gravidade ou qualidade de um atendimento, mas sim ao número e diversidade de profissionais e infraestrutura tecnológica de saúde necessários.
“São pacientes que demandam recursos tecnológicos de alta complexidade, para atendimento às suas necessidades clínicas durante a fase aguda de sua doença ou agravo.
Após a estabilização clínica, muitos tornam-se pacientes crônicos, dependentes para as atividades de vida diárias, em uso contínuo de dispositivos invasivos para auxílio nos processos de alimentação, respiração ou eliminações.
Quando estes pacientes findam sua jornada no hospital de alta complexidade, por ainda necessitar de cuidados especializados, sua desospitalização torna-se um desafio para os hospitais de alta complexidade, para as operadoras e para a cadeia de saúde”, explica a Gerente de Relacionamento Comercial da Rede Paulo de Tarso, Thamires Mayrink.
Nesses casos, a unidade de transição de cuidados é ferramenta indispensável para garantir a segurança dos pacientes no processo de desospitalização, além do retorno para casa em melhores condições de mobilidade e autonomia.
Principais benefícios das clínicas de transição para pacientes que tornam-se portadores de condições crônicas
Os pacientes portadores de condições crônicas podem apresentar desde dependências para execução de atividades básicas da vida diária, até uso de dispositivos invasivos como cateteres de alimentação, oxigenação suplementar, uso de dispositivos respiratórios como traqueostomia e ventilação mecânica, uso medicação intravenosa, entre outras particularidades.
Por isso, as clínicas de transição trazem benefícios de alto impacto para esses pacientes, tanto em relação a capacitação do paciente e família para um processo de alta segura, quanto em relação à melhora da qualidade de vida e independência proporcionadas pela reabilitação e adaptação. A equipe multidisciplinar oferece visão ampliada e, ao mesmo tempo, específica para as necessidades de cada paciente.
“Muitas vezes, os hospitais gerais não podem dar alta a estes pacientes diretamente para suas casas, mesmo depois da condição aguda ser estabilizada, por ainda ainda ser necessário um outro estágio de cuidado. É aí que entram as clínicas de transição”, explica Mayrink.
As clínicas de transição são a ponte entre os hospitais de alta complexidade e o domicílio dos pacientes. Entre os trabalhos desenvolvidos, estão:
- Reabilitação dos pacientes: melhorar condições de mobilidade e independência, força muscular, movimentação, busca pelo desmame de dispositivos invasivos, entre outros;
- Adaptação dos pacientes e das famílias às sequelas irreversíveis: adaptação à cadeira de rodas, capacitação para cuidados com traqueostomia e sondas, entre outros;
- Educação em saúde: cuidando e ensinando a família e/ou cuidadores como prevenir novos incidentes e os cuidados necessários em casa.
Além disto, a unidade de transição também oferece os cuidados paliativos, direcionados a pacientes portadores de doenças sem prognóstico de cura, especialmente nas fases mais agudas da doença. O objetivo da unidade de transição, nestes casos, é a identificação e o manejo adequado de sintomas, o acolhimento e amparo ao paciente e seus familiares, e a promoção da melhor qualidade de vida que for possível a cada caso.
Critérios para encaminhamento dos pacientes para uma clínica de transição de cuidados
Assim como o próprio tratamento, a decisão de encaminhamento de um paciente para unidade de transição precisa ser tomada a partir de um debate entre os membros da equipe que assistiu o paciente durante sua jornada na alta complexidade, assessorados pela equipe da Unidade de Transição.
São critérios de elegibilidade para internação em unidade de transição:
- Pessoas com perda de autonomia e funcionalidade com potencial de reabilitação funcional onde se indique terapias intensivas de reabilitação a nível de internação;
- Descompensação de doença crônica que requeiram cuidados hospitalares de baixa e média complexidade;
- Demandas de intervenções para prevenção de agravamento de doenças crônicas;
- Situações de dependência após episódio de doença aguda, onde se faz necessária a transição de cuidados e educação em saúde para alta- hospitalar segura;
- Intervenções a nível hospitalar para conforto no processo de terminalidade;
- Pessoas que necessitam de cuidados pós-operatórios de baixa e média complexidade;
- Ausência de critérios para suporte clínico intensivo ou intervenções cirúrgicas;
Como funciona o processo de encaminhamento de um paciente para uma clínica de transição
Todo o zelo e meticulosidade da decisão de encaminhamento também se reflete no processo de transferência propriamente dito.
A primeira etapa é a formalização da demanda pelos hospitais ou operadoras à clínica de transição, o que pode ocorrer pessoalmente, por meio da Equipe de Cuidados Continuados Integrados, ou ainda por whatsapp, telefone ou email.
Depois disso, a equipe da unidade de transição realiza a regulação do caso, por meio de uma criteriosa avaliação assessorada por médico e equipe interdisciplinar. Então, a clínica oferece para operadora e familiares um parecer sobre o encaminhamento.
“Em caso de parecer favorável, o Time de Cuidados Continuados Integrados realiza a passagem do caso para o médico que será responsável pela assistência ao paciente na Unidade de Transição, juntamente com sua equipe. O objetivo é proporcionar à equipe todas as informações necessárias para continuidade de cuidados ao paciente, antes mesmo de sua chegada”, conta Mayrink.
O papel de médicos e operadoras de saúde nos processos de encaminhamento
Infelizmente, o trabalho das Unidades de Transição de Cuidados ainda não são bem disseminados em nosso país, embora sejam altamente necessários.
Como toda boa solução em saúde, o potencial das clínicas de transição na qualificação de desfechos e qualidade de vida para pacientes portadores de condições crônicas depende do envolvimento de toda a rede de saúde. Familiares, profissionais de saúde e operadoras de planos de saúde podem contribuir muito para isso.
No caso de médicos, a identificação precoce de pacientes aptos às Clínicas de Transição e o encaminhamento correto dessas pessoas são aspectos cruciais.
Os profissionais de saúde, em contato direto com os pacientes, têm a responsabilidade de serem os primeiros capazes de perceber essa possibilidade.
Por outro lado, as operadoras de saúde podem facilitar o acesso dos pacientes às clínicas de transição, promovendo parcerias com prestadores de serviço da área, além de treinamentos para os seus profissionais a respeito desta opção disponível na rede credenciada.
As clínicas de transição têm se fortalecido como opção de sustentabilidade e economicidade na transição de cuidados no país. Mas mais do que isso,oferecem aos pacientes crônicos a atenção específica que necessitam quando o quadro agudo já foi controlado.
“Hoje em dia, poucas pessoas conhecem o que é uma clínica de transição. Tanto profissionais quanto operadoras são essenciais para ajudar a ampliar o acesso às informações sobre os benefícios dessas soluções para os pacientes que dela precisam”, conta Mayrink.
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Fisioterapia: qual seu papel no modelo de transição de cuidados
Pessoas que passam por situações de saúde graves, como um AVC ou queda com fratura, ficam internadas por muitos dias na UTI ou são acometidas por uma doença incapacitante têm pelo menos uma coisa em comum: em maior ou menor grau, elas experimentam perda de funcionalidade.
Isso significa que elas terão dificuldades ou limitações para se movimentar ou realizar atividades diárias como escovar os dentes, se alimentar ou pentear os cabelos. Para reverter essa condição e prevenir o surgimento de outros problemas relacionados a ela, a fisioterapia é fundamental.
A seguir, vamos entender o papel dessa ciência nos cuidados e como ela é empregada no contexto das clínicas de transição.
O que é fisioterapia?
Fisioterapia é uma ciência da saúde que utiliza técnicas e abordagens terapêuticas para promover recuperação, prevenção e melhoria da função física, mobilidade e qualidade de vida de indivíduos com condições de saúde variadas.
Sendo assim, o fisioterapeuta é o profissional que trabalha fazendo a avaliação, o diagnóstico, a prevenção e o tratamento de distúrbios do movimento e funcionalidade do corpo humano.
Sua atuação é abrangente e se dá em 16 diferentes especialidades:
- Fisioterapia aquática,
- Cardiovascular,
- Dermatofuncional,
- Esportiva,
- Gerontologia,
- Fisioterapia do trabalho,
- Neurofuncional,
- Oncologia,
- Reumatologia,
- Fisioterapia respiratória,
- Traumato-ortopédica,
- Osteopatia,
- Quiropraxia,
- Acupuntura,
- Saúde da mulher,
- Terapia intensiva.
(Fonte: Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional)
Como a fisioterapia se insere na transição de cuidados
No ambiente das clínicas de transição, o fisioterapeuta é uma importante adição à equipe transdisciplinar. Seus conhecimentos técnicos específicos contribuem para apoiar pacientes com terapias de redução da dor, recuperação da força muscular e prevenção de complicações.
Já na admissão do paciente, ele é o responsável por fazer um diagnóstico funcional, avaliando as condições atuais do paciente, seu histórico de saúde e suas necessidades. Essa análise inicial servirá de base para traçar os objetivos terapêuticos e as terapias para atingi-los durante o período de internação.
O fisioterapeuta também considera os riscos associados à condição de cada paciente e prevê ações para prevenir novos distúrbios.
No dia a dia, ele será responsável por conduzir o processo de reabilitação física do paciente (tanto motora quanto cardiorespiratória), o que pode envolver mobilização articular, exercícios de fortalecimento muscular e de funcionalidade.
Podemos dizer que o trabalho do fisioterapeuta na transição de cuidados envolve um olhar abrangente e crítico, que extrapola os atendimentos diários.
Esse profissional precisa considerar as condições que levaram o paciente àquela limitação, os possíveis riscos de agravo, o contexto familiar e social para, então, chegar ao melhor prognóstico funcional para cada indivíduo.
Fisioterapia nas 3 linhas de cuidados da transição
A fisioterapia faz parte do plano terapêutico de pacientes nas três linhas de cuidados oferecidas na transição – reabilitação, cuidados crônicos e cuidados paliativos.
As sessões são diárias e, sendo que a intensidade e o tempo de duração variam de acordo com o perfil e necessidades terapêuticas de cada paciente.
Na reabilitação, o objetivo principal é devolver funcionalidade ao paciente. A busca é, dentro das possibilidades de cada um, atingir o máximo de autonomia na realização de atividades de vida diárias, como andar (com ou sem auxílio), alimentar-se, ir ao banheiro, tomar banho e vestir-se.
Na linha de cuidados crônicos, a equipe de fisioterapia tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos pacientes, reduzir os sintomas, promover a independência e ajudar na gestão a longo prazo dessas condições de saúde.
Já na linha de cuidados paliativos, o foco principal da fisioterapia está na manutenção do conforto e da qualidade de vida do paciente.
Os exercícios, por exemplo, vão prevenir agravos de processos respiratórios (mobilizar secreções, melhorar oxigenação do sangue, promover reexpansão pulmonar, diminuir o trabalho respiratório, reeducar a função respiratória) ou lesões por pressão, um risco comum para pacientes que permanecem no leito por tempo prolongado.
Fisioterapeutas e a aplicação da cinesioterapia
Na transição de cuidados, os pacientes estão se adaptando a novas condições de saúde e a cinesioterapia (terapia do movimento) é imprescindível nesta fase do tratamento.
Essa técnica, combinada aos conhecimentos aprofundados de anatomia e fisiologia, é usada para promover o ganho de função motora e permite que os pacientes reconquistem a independência nos movimentos do dia a dia.
Levando em consideração as capacidades e limitações de cada paciente, os fisioterapeutas desenvolvem um programa de exercícios personalizados que ajudam a reeducar músculos e articulações, melhorar o equilíbrio e a coordenação, fortalecer grupos musculares, além de promover a flexibilidade.
A interação com a rede de apoio do paciente
Uma das características que diferencia e ajuda a tornar as clínicas de transição tão efetivas no retorno seguro ao lar é sua prioridade em envolver a rede de apoio nos cuidados do paciente.
Com o trabalho da fisioterapia não é diferente: a presença do familiar é essencial para que o desfecho para o paciente seja mais favorável, tanto durante a internação quanto no retorno ao domicílio.
A comunicação com a família sobre o prognóstico funcional do paciente, esclarecimento de dúvidas e o atingimento das metas terapêuticas acontece desde o momento da entrada até a alta.
Os fisioterapeutas também serão os responsáveis por ensinar e capacitar a rede de apoio nas formas corretas e seguras de movimentação (de que forma o paciente deve ser mobilizado, como transferi-lo da cadeira para a cama e vice-versa), como manejar dispositivos de via aérea artificial, os cuidados com a traqueostomia, entre outros.
Como se sabe, a fisioterapia desempenha um papel fundamental na transição de cuidados. Trabalhando para restabelecer a funcionalidade motora ou respiratória, ela contribui para a melhora do quadro geral dos pacientes, garantindo que eles atinjam o máximo possível de independência e autonomia para o retorno ao domicílio.
Além disso, oferece suporte e capacitação a familiares para que consigam oferecer, de forma segura, o suporte necessário a seus entes queridos.
Quer saber mais sobre a transição de cuidados e sua importância para pacientes, rede de apoio e sistema de saúde? Confira uma entrevista especial com o CEO da Rede Paulo de Tarso, Carlos Costa, sobre o assunto.
Reinternação hospitalar: entenda por que é importante evitar
Um dos grandes desafios enfrentados na saúde brasileira – tanto pública quanto privada – é o aumento das taxas de reinternação hospitalar.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Segurança do Paciente (IBSP), a média nacional de readmissões é de 19,8%, muito próxima da média considerada aceitável pelo Ministério da Saúde, que é de 20%.
Além de indicarem potenciais falhas na qualidade do atendimento prestado aos pacientes, índices altos de reinternação impactam o sistema em diferentes frentes:
- Dificultam a gestão eficiente dos leitos;
- Representam aumento de custos para hospitais e operadoras;
- Potencializam os riscos de complicações de saúde para os pacientes.
Neste artigo, vamos entender os motivos que levam um paciente a retornar ao hospital pouco tempo depois da alta, as desvantagens assistenciais, financeiras e logísticas que isso traz e também como a transição de cuidados pode se tornar uma alternativa eficiente para interromper esse ciclo.
Mudança no perfil de atendimento
Para falar sobre taxas de readmissão hospitalar (novas internações realizadas em menos de 30 dias após a alta) é preciso, antes, considerar o cenário de transição epidemiológica e demográfica pelo qual estamos passando no mundo todo.
Nossa população está cada vez mais envelhecida e isso traz impactos diretos na rede de saúde.
Os dados do Censo de 2022 do IBGE mostraram que o Brasil teve seu maior salto de envelhecimento desde 1940. Para se ter uma ideia, em 2010, a cada 30,7 idosos, o país tinha 100 jovens de até 14 anos. Agora, são 55 idosos para cada 100 jovens. E a tendência é de que essa proporção continue a crescer.
Com pessoas vivendo por mais tempo, muda também o perfil das doenças prevalentes: diminuem os atendimentos por condições agudas e aumentam as internações por comorbidades crônicas e suas sequelas. Por consequência, a tendência é de crescimento nas taxas de internações e reinternações.
Quais são os riscos da reinternação para a rede de saúde?
Desde 2016, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) utiliza a Readmissão Hospitalar como indicador crucial para avaliar a qualidade dos serviços de saúde. Quanto menor for a taxa de readmissão, melhor é considerado o atendimento prestado pela unidade hospitalar.
Para que o índice seja atingido, a ANS espera que os hospitais promovam melhorias no gerenciamento do quadro clínico dos pacientes, façam um adequado planejamento de alta, promovam capacitação constante de equipe e identifiquem falhas em fluxos e protocolos de atendimento.
Isso porque o retorno não planejado ao hospital é prejudicial a todo o ecossistema da saúde, representando custos desnecessários, dificultando a gestão dos leitos e, sobretudo, expondo pacientes a riscos indevidos. Abaixo, vamos entender melhor cada um desses aspectos.
O prejuízo financeiro de uma reinternação
As readmissões hospitalares não planejadas acarretam custos adicionais consideráveis ao sistema de saúde, nos âmbitos público e privado.
Quando acontecem em uma instituição diferente da primeira, a tendência é de fragmentação das informações e a situação pode ser ainda mais complexa, com repetição de exames e tratamentos já realizados.
Uma pesquisa conduzida pela União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (UNIDAS) revelou que as internações respondem pela maior parcela da despesa assistencial na saúde suplementar brasileira. De 2019 a 2022, o custo médio de uma internação subiu de aproximadamente R$6,4 mil para R$10 mil.
Também ficou evidenciado como a idade do paciente impacta esses valores: o custo médio de hospitalização de uma pessoa na faixa etária acima dos 60 anos é mais que o dobro que de uma pessoa na faixa de 24 a 28 anos.
O estudo “Hospital discharge and readmission”, publicado em 2023, mostra que os gastos relacionados apenas a readmissões não planejadas nos Estados Unidos podem chegar a 20 bilhões de dólares anualmente.
Esses números se tornam ainda mais impressionantes quando contrapostos aos achados de outro estudo que sugere que um quarto das reinternações registradas no país seriam “potencialmente evitáveis” (“Preventability and Causes of Readmissions in a National Cohort of General Medicine Patients”).
Gestão de leitos de alta complexidade
Outro prejuízo que as reinternações trazem ao sistema de saúde é de ordem logística.
A disponibilidade de leitos, especialmente os de alta complexidade, acaba sendo afetada pelo retorno não programado de pacientes pouco tempo depois da alta.
Quando um paciente portador de doenças ou condições crônicas, por exemplo, retorna desnecessariamente ao hospital, ele está, na verdade, ocupando um leito que deveria ser destinado a casos agudos.
Paciente mais vulnerável a complicações
Do ponto de vista assistencial, as reinternações são um problema grave, que prejudicam a jornada do paciente.
Atualmente, sabe-se que o melhor lugar para o paciente estar é a própria casa. No ambiente hospitalar, por mais que existam protocolos e barreiras de segurança, ele acaba exposto a eventos adversos, sejam eles infecciosos ou não. Confira, a seguir, os principais:
Infecção hospitalar
A permanência prolongada no ambiente hospitalar é um dos principais fatores para a transmissão de infecções. Idosos, pacientes com doenças crônicas, que estejam com o sistema imunológico enfraquecido ou internados em Unidades de Terapia Intensiva estão entre os mais suscetíveis.
Agravamento da saúde mental
O afastamento da rotina e do convívio de familiares e amigos por tempo prolongado pode levar ao desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão, atrasando a recuperação do paciente.
Debilidade física
Quanto mais tempo passa no leito, sem se movimentar, mais o paciente corre o risco de perder massa magra e, consequentemente, ter mais dificuldade de movimentação.
Óbito
Reinternações podem transformar um cenário tratável em um quadro terminal. Com o sistema imunológico já debilitado, a tendência é de que a recuperação se torne ainda mais delicada depois de uma segunda hospitalização.
Mas afinal, o que está por trás das readmissões hospitalares?
Vários motivos podem levar o paciente a retornar ao hospital poucos dias depois da alta, incluindo tratamentos pouco eficientes, complicações não previstas da doença ou mesmo um planejamento de alta equivocado.
No entanto, muitas vezes esse retorno está associado a dificuldades do paciente e seus familiares em dar continuidade aos cuidados após a alta.
Muitos não se sentem preparados ou capazes de lidar com dispositivos médicos, têm dificuldades em retomar atividades diárias ou mesmo de administrar medicamentos no longo prazo. Diante disso, a adesão ao tratamento cai. E, em vez de se recuperar, o paciente vê seu quadro piorar até precisar ser novamente hospitalizado.
É justamente nesse “intervalo” entre a alta hospitalar e a volta para a casa que se encaixam as clínicas de transição, unidades de referência em cuidados especializados que podem representar uma alternativa eficiente – tanto no âmbito assistencial quanto no financeiro – para evitar reinternações.
Como as Clínicas de Transição podem contribuir para evitar reinternações
As clínicas de transição são especializadas em receber o paciente que terminou sua jornada no hospital de alta complexidade, mas, por questões assistenciais ou de capacitação para o cuidado, ainda não está apto a ir para casa com segurança.
Nessas unidades, além da prestação de assistência especializada, personalizada e multidisciplinar dentro de três possibilidades (reabilitação, cuidados crônicos e cuidados paliativos), acontece um intenso processo de educação e capacitação de pacientes, seus familiares e cuidadores.
Essa estratégia permite que, ao final do período de transição, tenha-se trabalhado, em paralelo, dois pontos cruciais para reduzir as chances de reinternação:
1 – A reabilitação do paciente, com fortalecimento de suas capacidades motoras e cognitivas, visando ao atingimento da sua máxima autonomia e reintegração;
2 – A preparação de sua rede de apoio, que terá plenas condições de executar, no domicílio, todos os cuidados necessários para a manutenção da segurança e da qualidade de vida do seu ente querido.
O estudo “Qualidade da transição do cuidado e sua associação com a readmissão hospitalar”, publicado em 2019, ressalta que pesquisas internacionais têm encontrado relação direta entre a redução de taxas de reinternação e a elevada qualidade da transição de cuidados.
Isso reforça a importância dessa proposta assistencial, “uma vez que contribui para a coordenação e a continuidade dos cuidados, minimizando os eventos adversos e as demais complicações pós-alta”.
Especialistas também defendem que a transição de cuidados é fundamental para qualificar o processo de desospitalização e contribuir para uma alta mais segura, sem a necessidade de reinternação.
Dessa forma, favorece não apenas a qualidade de vida dos pacientes, mas a sustentabilidade do ecossistema de saúde, reduzindo gastos e colaborando para uma gestão mais eficiente. Quer entender mais sobre a economicidade na transição de cuidados? Confira um vídeo especial publicado em nosso Portal.
Rede de apoio ao paciente: como envolver, orientar e preparar essas pessoas
Após passar por uma internação e intervenções de alta complexidade decorrentes de um evento agudo grave, é comum que pacientes – e, consequentemente, sua rede de apoio – tenham que conviver com sequelas cognitivas ou físico-funcionais.
Mas a realidade é que a maioria das pessoas não está preparada para lidar com essa situação e precisa de um tempo para assimilar as mudanças e se preparar para a nova realidade.
Nesse contexto, as unidades de transição de cuidados podem oferecer um suporte valioso. Em primeiro lugar, porque trabalham com foco na reabilitação desses pacientes de maneira individualizada e coordenada, em um ambiente totalmente planejado para isso.
Em segundo, porque oferecem suporte e preparação qualificada para familiares e cuidadores desse paciente, com objetivo de garantir que sua volta ao lar seja segura (evitando reinternações) e proporcione qualidade de vida.
Neste artigo, vamos entender como as clínicas de transição têm trabalhado para envolver, orientar e capacitar a rede de apoio de seus pacientes.
Como envolver a rede de apoio
Um dos principais diferenciais do atendimento prestado nas unidades de transição é a busca pelo envolvimento da rede de apoio dos pacientes em seus cuidados desde o momento da admissão. Tanto que é comum que as clínicas desenvolvam protocolos de educação em saúde voltados especificamente para esse público.
Esses protocolos são colocados em prática nos momentos seguintes à entrada do paciente e envolvem diferentes etapas até a alta.
Por isso, desde a admissão, a família é orientada a se organizar para garantir que as pessoas que vão participar mais ativamente dos treinamentos sejam as mesmas responsáveis pela continuidade dos cuidados em casa.
Mesmo nos casos em que o paciente possui cuidadores ou atenção domiciliar, é orientado aos familiares que designem uma pessoa de referência para acompanhar todo esse processo.
Dessa forma, a família terá entendimento e domínio dos cuidados necessários não apenas para acompanhar com mais propriedade a qualidade do trabalho prestado ao paciente, mas também para agir em momentos em que não seja possível contar com a prestação do serviço.
Em resumo, é apresentado à família a importância de que tenha domínio sobre esses cuidados para que sejam feitos (por ela ou por outros) de forma qualificada, evitando complicações, reinternações e garantindo a continuidade dos ganhos obtidos durante a transição.
Etapas de capacitação da rede de apoio
1. Aulas teóricas
A primeira etapa da capacitação da rede de apoio do paciente são as aulas teóricas.
Nelas, os profissionais da equipe transdisciplinar vão explicar todas as necessidades do paciente e os procedimentos cotidianos que elas envolvem, além de demonstrar a familiares e cuidadores todos os cuidados necessários para prevenir agravos, garantindo a segurança e qualidade de vida do seu ente querido.
Veja alguns exemplos:
- Se o paciente não pode ser desmamado da traqueostomia, sua rede de apoio vai ser apresentada ao dispositivo, entender como ele funciona, os riscos envolvidos no seu manejo e que sinais de alerta observar no dia a dia.
- Se o risco é de queda, a família e cuidadores são orientados sobre como ajustar o domicílio para prevenir quedas e os pontos de atenção.
- Caso o risco seja de broncoaspiração, a rede de apoio conhecerá os manejos corretos para oferta de alimentação, como se posicionar e os demais cuidados necessários para prevenir essa complicação, muito comum em pacientes com mobilidade reduzida e que usam dispositivo respiratório ou de alimentação.
2. Conhecimentos colocados em prática
Depois do módulo teórico, a família inicia o treinamento prático beira leito. Para que as pessoas tenham tempo de absorver os novos conhecimentos e se sintam seguras para executá-los, o treinamento geralmente é dividido em etapas.
1 – Num primeiro momento, os profissionais da equipe transdisciplinar apenas demonstram detalhadamente como executar o cuidado.
2 – Depois, a família e cuidadores são convidados a participar do procedimento, realizando parte dele com os profissionais.
3 – E, num terceiro estágio, os profissionais permitem que as pessoas da rede de apoio executem o procedimento por completo, sob sua supervisão.
3. A importância do envolvimento gradual
Um exemplo muito comum nas clínicas de transição é o de pacientes que chegam com uma ferida crônica. A completa cicatrização desse tipo de lesão costuma levar um tempo superior ao da internação. Ou seja, será necessário que a família aprenda como fazer e continue realizando os cuidados em casa.
A questão é que, um curativo – que, à primeira vista pode parecer um procedimento trivial, especialmente para quem é da área de saúde – tem potencial para se tornar um grande desafio para pessoas que não estão acostumadas, gerando angústia, repulsa ou medo de errar.
Por isso, as equipes transdisciplinares de unidades de transição usam a estratégia de introduzir essas “novidades” gradualmente, de maneira que a rede de apoio tenha tempo de desmistificar os procedimentos, se adaptar e começar a executá-los com confiança. Com informação qualificada, supervisão e suporte profissionais, as pessoas percebem que são capazes de dar continuidade aos cuidados.
4. Manutenção dos ganhos obtidos durante a internação
Os cuidados transmitidos à rede de apoio durante a internação do paciente na clínica de transição abrangem procedimentos para manutenção da segurança e qualidade de vida no dia a dia, mas não se restringem a isso.
A família e os cuidadores também aprendem exercícios e cuidados para que todos os ganhos (motor, funcional, entre outros) obtidos no período de internação não sejam perdidos após a alta.
Quanto tempo leva a capacitação da rede de apoio?
Como o nome sugere, a transição é uma instituição temporária de cuidados, na qual o paciente deve estar por tempo suficiente para a reabilitação dentro das suas possibilidades e a reversão de sequelas que, em seu caso, apresentem possibilidade de reversão.
O ideal é que esse não seja um período prolongado. Por isso é importante aproveitá-lo da forma mais eficiente possível. Sendo assim, as ações para envolver e capacitar a rede de apoio desse paciente são realizadas desde sua chegada até a alta.
Criação de vínculo é fundamental
Acompanhar um ente querido durante um momento complexo de saúde é uma situação delicada, em que familiares precisam resolver questões práticas, assimilar novos conhecimentos e tomar decisões importantes ao mesmo tempo em que lidam com sentimentos como angústia, insegurança e medo.
Para tentar facilitar esse processo, as clínicas de transição têm investido na formação de um vínculo forte de confiança entre membros da equipe transdisciplinar e a rede de apoio dos pacientes.
Uma das estratégias que tem apresentado bons resultados é manter a mesma equipe em todas as etapas do cuidado durante a internação, da admissão à alta, num modelo chamado de cuidado longitudinal.
Isso significa dizer que os mesmos profissionais que administram medicação, realizam as terapias e monitoramentos com o paciente cuidarão também da completa capacitação da rede de apoio (fases teórica e prática beira leito).
Se você quer se aprofundar um pouco mais sobre a transição de cuidados, entenda como funciona a jornada do paciente e como se preparar para esse momento.
Clínica de Transição e seus benefícios
Confira a entrevista completa com o CEO da Rede Paulo de Tarso, Carlos Costa, sobre a importância das Clínicas de Transição. Conheça o conceito desse modelo de cuidados e os benefícios relacionados à economicidade e sustentabilidade para o setor da saúde.
Além disso, entenda como os serviços de uma Clínica de Transição podem trazer qualidade de vida para pacientes e sua rede de apoio e o papel das equipes transdisciplinares.
Sustentabilidade e Economicidade na Transição de Cuidados
O CBO da Rede Paulo de Tarso, Bernardo Hamacek, explica de que forma as Clínicas de Transição podem ajudar o sistema de saúde, trazendo economia e sustentabilidade para o setor.
Entenda também de que forma as Clínicas de Transição são um diferencial na reabilitação de pacientes, reduzindo sequelas e as chances de reospitalização.